O novo Quarteto Fantástico, sob direção de Matt Shakman, estreia não como um espetáculo ensurdecedor, mas como um sopro de frescor nostálgico — e profundamente necessário. Em meio a uma era saturada por narrativas cínicas, fragmentadas ou excessivamente sombrias, o filme oferece algo mais raro: um convite à esperança.
Com um visual retrofuturista elegante, o longa bebe diretamente da fonte da Era de Prata dos quadrinhos, sem vergonha de ser colorido, estilizado, e até, por que não, “bobo”. Mas é justamente nesse tom — que abraça a leveza sem abandonar a gravidade — que reside sua força. A estética visual, os figurinos, os cenários e a trilha sonora evocam um tempo em que a ficção científica olhava para o amanhã com deslumbramento, não com medo.
É nesse contexto que a trama se desenvolve. Evitando a armadilha do “filme de origem”, o roteiro parte de um grupo já formado, o que permite aprofundar as dinâmicas afetivas e ideológicas entre os personagens, especialmente no que tange à relação entre fé na ciência, responsabilidade coletiva e os laços que definem uma família.
Aqui, a família não é um clichê moralista ou tradicionalista. É um espaço de cuidado, confronto e reconstrução. O filme constrói isso com honestidade emocional, colocando as divergências internas e os dilemas morais em primeiro plano, mas sem perder de vista o que une aquelas pessoas: o afeto e o compromisso mútuo.
Há um mérito especial em como os protagonistas compartilham o tempo de tela de forma equilibrada. Cada um tem seu momento de brilho e profundidade, sem que um eclipse o outro. Isso fortalece a noção de grupo e reforça a ideia de que o heroísmo aqui é coletivo — e não um pedestal individual.
A grande ameaça que paira sobre eles — sem entrar em detalhes — é tanto uma força física quanto simbólica. E o modo como o grupo a enfrenta traz à tona uma mensagem de redenção, não apenas do vilão ou do mundo, mas do próprio olhar que o cinema mainstream tem lançado sobre o heroísmo. Não se trata de vencer, mas de salvar, de resgatar o outro e, ao fazê-lo, resgatar a si mesmo.
É um filme que escolhe a ternura em vez do sarcasmo, a empatia em vez do colapso emocional, e a colaboração em vez da jornada individual e solitária. Em tempos em que o mundo real parece cada vez mais fragmentado, essa visão soa quase subversiva. E necessária.
É um filme ingênuo? Sim — no melhor sentido possível da palavra. Porque a ingenuidade aqui não é ignorância, é coragem de imaginar um mundo diferente, onde o saber, a ciência e os afetos não precisam ser antagônicos.
Em meio a tudo isso, o longa ainda encontra espaço para prestar uma bela homenagem aos criadores do grupo, especialmente Jack Kirby e Stan Lee — não apenas nos créditos, mas no espírito da obra, que resgata a imaginação original daqueles primeiros traços e palavras.
Quarteto Fantástico (2025) talvez não seja a produção mais espetacular da Marvel em termos de reviravoltas, efeitos ou escopo narrativo, mas é, com certeza, um dos mais humanos, sensíveis e eticamente vibrantes.
E é exatamente o tom de filme que precisávamos agora.